Mercado brasileiro está esquecendo o que é "Marketing"

Ao que tenho notado, recentemente, o mercado Brasileiro parece não mais saber o que Marketing significa ou, ao menos, não sabem mais, adequadamente, o que é a função de um marketeiro! Tenho visto, nos anúncios de vagas para marketing, requerimentos para preenchimentos de vaga cada vez mais distantes da visão tradicional do conceito de um profissional de marketing. Requerimentos que se aproximam mais daqueles para um designer gráfico, ou publicitário, do que para um profissional de marketing.

Além disso, há muito empresário e executivo por aí, em geral de pequenas/médias empresas, ou de empresas sem tradição em ter um departamento de marketing estabelecido, que ainda enxergam o marketeiro como um "fazedor de panfletos e PowerPoints de vendas". Muitos profissionais da área ficam relegados a não mais que redigir textos de vendas, organizar o site da empresa, montar anúncios web, entre outras tarefas simples, que não necessariamente requerem um profissional com conhecimentos mais aprofundados de marketing.


Como dizia, tenho visto cada vez mais anúncios de vagas de emprego em Marketing, onde requisitos essenciais para a vaga são conhecimentos em Photoshop, Dreamweaver, entre outros programas de edição de imagens e construção de websites. Ou seja, não querem um marketeiro, querem um web designer, ou um designer gráfico!

Compreendo que o mercado está cada vez mais exigente hoje em dia. Que é necessário diversificar, que é necessário ter habilidades "extra", e assim por diante. Mas, certas horas, tenha a impressão de como estivessem pedindo a um médico que também tenha conhecimentos em medicina veterinária. Seria útil, mas não é a mesma coisa. Um marketeiro deveria trabalhar em conjunto com um designer, não ser o marketeiro e o designer ao mesmo tempo. Até porquê, muitas vezes, o marketeiro no Brasil tem costumado acumular muitas outras funções além do Marketing em si. E falo por experiência própria, quando, trabalhando em empresas de pequeno porte, fazia desde o planejamento financeiro anual com o presidente da empresa no exterior a comprar material de limpeza pro escritório (algo comum em empresas pequenas, eu sei, e não reclamo, mas...).

Não podemos generalizar, claro! No entanto, essa visão atual do marketeiro por muitos empresários  executivos por aí me preocupa. Até mesmo pelo fato, tanto falado, de grande número de novas empresas e empreendimentos no Brasil não sobreviverem ao seu segundo ano de existência. Em geral, falta conhecimento administrativo ao empreendedor, que tem idéias, dinheiro, mas nem sempre tem preparo para gerir um negócio.

O marketeiro, em sua função tradicional, original, "by the books", deveria ser um profissional ocupado com a estratégia mercadológica da empresa. Deve ser aquele preocupado em analisar micro e macro ambientes, monitorar concorrentes e mercados consumidores, sugerir planos de ação, elaborar métricas para resultados, pensar em ROI, pensar nos níveis do BSC e na forma com que eles afetam a performance da empresa. O marketeiro deve analisar tendências de mercado e traçar rotas que tragam os melhores benefícios para a empresa de acordo com as situações, e mesmo buscando antecipar determinadas situações, trabalhando de forma pró-ativa, e não reativa, não apenas cumprindo tabela.

O impacto negativo que vejo (e, claro, posso estar errado) é o de começarmos a ter uma queda na qualidade dos serviços de marketing no país, com profissionais e futuros profissionais buscando se especializar em ferramentas gráficas e cursos de redação, ao invés de buscarem novas técnicas e metodologias em estratégia e tática de negócios. Me preocupa que isso comece a criar uma tradição de baixa qualidade nos departamentos de marketing das empresas, departamentos que em alguns casos mal existem na prática.

Se o marketeiro gasta cada vez menos tempo de trabalho focado em estratégia de mercado, isso pode gerar graves ameaças ao desempenho financeiro futuro da empresa. Se ele não está focado nas táticas de acesso a novos mercados, ou nas melhorias de gestão do relacionamento com o cliente, entre outras diversas tarefas essenciais, a capacidade da empresa em agir positivamente em seu segmento ou nicho é reduzida.

Claro que há várias formas de se fazer "marketing" e conduzir negócios. Não estou aqui para levantar a bandeira do profissional de marketing como o "único responsável" pelo sucesso de uma organização. O "marketing" deve acontecer em todos os níveis da empresa, do funcionário da faxina ao presidente do conselho administrativo.

Também, sei que algumas empresas preferem adotar o chamado "Marketing Radical", mas nem todos entendem essa prática adequadamente. Apenas acabam por adotar a primeira premissa, de que o marketing deve estar nas mãos do CEO, e então contratando profissionais de marketing que não passam de "cumpridores de tarefas" sem pensamento ativo. E perguntar a esse profissional "o que você acha de nosso novo banner web" não basta! Deve haver participação intensa dos profissionais da área nas estratégias e ações táticas corporativas. Apenas assim, a meu ver, o marketing poderá dar certo, seja onde fôr.

Para encerrar o post, alguns links de interesse:
E algumas leituras de interesse:

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